O anúncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de estender o Auxílio Gás a todas as famílias beneficiárias do Bolsa Família a partir de 2025 gerou expectativas, mas também trouxe à tona diversos obstáculos. A proposta, intitulada “Gás para Todos”, trata de questões fiscais, orçamentárias e legais, colocando em dúvida sua previsão conforme inicialmente prometido.
Descompasso entre promessa e orçamento
Apesar da excitação gerada pela promessa presidencial, a realidade orçamentária parece distante do necessário para concretizar o projeto. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, já enviado ao Congresso Nacional, reserva apenas R$ 3,7 bilhões para o novo modelo do Auxílio Gás, valor insuficiente para atender a demanda projetada.
De acordo com as estimativas, o custo anual para fornecer o benefício a todas as famílias do Bolsa Família seria de aproximadamente R$ 12,6 bilhões, mais de três vezes o valor reservado no orçamento. Essa discrepância evidencia a necessidade de ajustes substanciais ou de encontrar fontes de financiamento.
Desafios legais e fiscais
Além do descompasso orçamentário, a proposta enfrenta questionamentos sobre sua legalidade e conformidade com as regras fiscais vigentes. Inicialmente, cogitou-se a possibilidade de realizar o repasse direto de recursos do pré-sal para a Caixa Econômica Federal, sem passar pelo Orçamento, o que expressou preocupações sobre a transparência e a legalidade dessa medida.
Diante das críticas, o governo, por meio do Tesouro Nacional, Ministério da Fazenda e Casa Civil, está trabalhando para ajustar o projeto e evitar conflitos com a legislação fiscal. O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que o governo está comprometido em manter a proposta dentro das parâmetros fiscais, evitando triangulações de recursos e garantindo que quaisquer despesas ou renúncias de receita sejam devidamente registradas no Orçamento.
Revisão e Reavaliação da Proposta
Reconhecendo os desafios enfrentados, Ceron admitiu que o governo está revisando a proposta de reformulação do programa Auxílio Gás. Segundo ele, após o anúncio inicial, surgiram “ruídos e críticas”, motivando uma reavaliação do projeto de lei.
“Há um sentimento de necessidade de rever alguns pontos da proposta para garantir que ela seja viável e respeite todas as normas fiscais”, afirmou o secretário, sinalizando que ajustes podem ser necessários para adequar o programa às exigências legais e orçamentárias.
Impacto Potencial no Público-Alvo
A incerteza em torno da implementação do “Gás para Todos” gera apreensão entre as famílias de baixa renda, que contavam com o benefício para aliviar o peso do custo de vida. Atualmente, o Auxílio Gás beneficia cerca de 5,64 milhões de famílias, com um valor de R$ 102 a cada dois meses, totalizando um gasto mensal de aproximadamente R$ 575,59 milhões.
Se a proposta de renovação conforme prometida, o impacto seria significativo, atingindo cerca de 20 milhões de famílias até 2026, de acordo com as metas do governo. No entanto, as incertezas em torno do financiamento e das previsões legais podem comprometer essa ambição.
Alternativas em Discussão
Diante dos obstáculos, o governo está explorando alternativas para viabilizar a expansão do Auxílio Gás. Uma das opções em análise é a criação de um fundo específico para o programa, alimentado por recursos provenientes do pré-sal ou de outras fontes, como royalties e participações especiais.
Outra possibilidade é a realização de ajustes graduais no orçamento, buscando a ampliação do benefício de forma progressiva, em vez de uma implementação imediata para todas as famílias do Bolsa Família.
Impacto nas Famílias da Baixa Renda
Independentemente da solução encontrada, é inegável que o Auxílio Gás desempenha um papel fundamental no rompimento do orçamento familiar das camadas mais vulneráveis da população. O custo do gás de cozinha representa uma parcela dos gastos monetários, especialmente para aqueles que vivem com renda limitada.
A expansão do benefício poderia trazer um respiro financeiro para milhões de famílias, permitindo que esses recursos fossem redirecionados para outras necessidades básicas, como alimentação, saúde e educação.